O Círculo de Giz Caucasiano II


Um grupo de “inconscientes” cuidadosamente dispostos à volta de um círculo de giz branco pintado no chão, cada um deles de braço esticado e senha na mão a olhar ansiosamente para cima, para a máquina dos números vermelhos, à espera da respectiva vez. Fora deste grupo um homem alto de cara pintada de branco, por sinal o narrador (Filipe Costa) dirige-se a nós, plateia, num tom leve e ameaçador perguntando-nos – qual professor – se sabíamos o que afinal vinha a ser aquilo ao mesmo tempo que aponta a bengala para o grupo.

E assim entramos na fábula brechtiana de inspiração oriental “O círculo do giz caucasiano” do Teatrão com encenação de Marco António Rodrigues.


A história, ela própria um círculo, passa-se à volta de Grutcha (Isabel Craveiro) a ajudante de cozinha, que sem perceber bem como, se vê a cuidar do filho do governador que tinha sido deixado ao abandono pela própria mãe, quando esta fugia do rebentar da guerra.


A peça é sobre ao que Grutcha se sujeita para proteger aquela criança. Aos sacrifícios, aos pré-julgamentos, aos abandonos, e também às acções moralmente questionáveis que mais tarde lhe serão cobradas pelo juiz Azdak (Ricardo Brito). Este juiz é um homem (tirar do povo) rude que nos é dado a conhecer melhor na segunda parte da peça, e de quem depende a decisão sobre o destino da criança.


O paralelismo entre esta história e o caso Esmeralda é imediato, mas o Teatrão aproveita esta história para fazer muito mais do que representar, aproveita-a para questionar-se a si próprio enquanto grupo, enquanto grupo de actores e pessoas que interagem entre si e com diferentes públicos o que torna esta peça muito interessante e profunda, com várias camadas de leitura, capaz de deixar qualquer pessoa cativada, divertida, satisfeita pela tarde bem passada e por ver uma peça tão consistente da qual se pode dizer “Aqui está um trabalho bem feito!”
Sinopse por C.L.


Quero dar os parabéns ao Teatrão por mais uma grande produção.

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